Nos dias 6 e 7 de outubro, a Associação Paulista de Medicina sediou a primeira capacitação do Projeto HiperDia, sobre hipertensão arterial e diabetes mellitus – iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) -, que reuniu mais de 50 médicos de diversas instituições de Saúde.
O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, abriu o evento agradecendo aos presentes e contando um pouco sobre o início do projeto. “O HiperDia é a materialização de uma proposta que surgiu no ano passado – época em que estávamos definindo as prioridades de Atenção Primária à Saúde (APS) para o estado de São Paulo. Durante a discussão, sentimos a necessidade de olhar para as doenças crônicas não transmissíveis. A hipertensão arterial e o diabetes mellitus ganharam destaque neste primeiro momento, e a gente sabe que existem outras condições clínicas que poderão ser abordadas, posteriormente, como tabagismo, obesidade e sedentarismo”, explicou.
Integrar a atenção primária e especializada no campo da hipertensão arterial e do diabetes mellitus, otimizar a atenção à Saúde na área destas doenças e capacitar médicos e outros profissionais de Saúde da atenção básica dentro de um programa de tutoria, desenvolvido ao longo de um ano, estão entre os objetivos do Programa HiperDia.
Nos dois dias de capacitação, foram realizadas palestras com os coordenadores do projeto, além de outros renomados especialistas em hipertensão arterial e diabetes mellitus. Os participantes esclareceram dúvidas e, também, participaram de muita discussão com foco na integração da Atenção Primária à Saúde. Foram mais de 20 aulas apresentadas, de acordo com a grade a seguir:
Hipertensão arterial – Epidemiologia e custo social; diagnóstico e avaliação clínica e laboratorial; estratificação de risco e metas provisórias; tratamento não medicamentoso e medicamentoso da hipertensão arterial; a importância da abordagem multiprofissional no controle da hipertensão e inércia médica, hipertensão arterial e doenças associadas (doença coronariana – insuficiências renal e cardíaca), hipertensão arterial na criança, no idoso e na gestante; crise hipertensiva.
Diabetes Mellitus – Epidemiologia do DM2 – evidenciando os desafios e oportunidades de prevenção; diagnóstico e caracterização dos diferentes tipos de diabetes mellitus; objetivos, métodos e metas para o controle glicêmico no diabetes mellitus; sequência e otimização do tratamento não-insulínico do diabetes mellitus 2 no contexto do SUS; o uso da insulina no tratamento do diabetes mellitus do tipo 2: quando e como?; pesquisa e abordagem da Nefropatia Diabética; pesquisa e abordagem da Neuropatia Diabética; pesquisa e abordagem das complicações macroangiopáticas (cérebro-vascular, coronariana e periférica) no Diabetes Mellitus; abordagem da diabesidade e síndrome metabólica no SUS e orientações para o exercício no tratamento do Diabetes Mellitus.
Integração
Para Amaral, é importante estruturar o cuidado para obter o controle da doença, porque hoje existem recursos disponíveis, mas falta integração entre os profissionais. “O nosso foco, hoje, é integrar a Atenção Primária à Saúde. A ideia é que as universidades deem suporte para vocês serem tutores dos médicos de Atenção Básica à Saúde. Nossa meta é reunir entre 100 e 150 tutores até o fim deste ano, para que eles possam supervisionar a atenção primária, fazendo com que essa atividade seja resolutiva, eficiente e qualificada. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo irá acompanhar os resultados dos atendimentos realizados”, complementou.
As doenças crônicas não transmissíveis são determinantes da morte de 38 milhões de indivíduos a cada ano, sendo responsáveis por 70% das mortes no mundo. Entre elas, estão as doenças do aparelho circulatório, câncer, doenças respiratórias crônicas e diabetes – responsáveis por 80% destes óbitos.
Embora pessoas de todas as idades sejam afetadas por estas doenças, o risco de morte prematura naqueles entre 30 e 69 anos foi de 22% em 2000, e de 18% em 2016. Este risco de mortalidade é elevado, principalmente em países de renda média e baixa.
A hipertensão arterial é um problema de saúde pública, com alta prevalência e baixas taxas de controle, contribuindo significativamente nas causas de morbidade e mortalidade da população.
Segundo Renilson Rehem de Souza, médico formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre em Administração de Saúde pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), 32% da população adulta brasileira, o equivalente a 36 milhões de indivíduos, têm a doença. Segundo ele, a taxa de mortalidade no Brasil atingiu o maior valor dos últimos dez anos, com a ocorrência de 18,7 óbitos por 100 mil habitantes em 2021.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a hipertensão arterial mata 300 mil brasileiros anualmente, com 820 mortes por dia, 30 por hora ou uma a cada 2 minutos. É uma condição habitualmente assintomática e deve ser avaliada em todo atendimento médico e em programas estruturados de triagem populacional. Mais de 50% dos portadores da doença não sabem que têm, o que reforça a necessidade de uma boa anamnese e um bom exame clínico. Já os exames complementares serão úteis na estratificação de risco.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o diabetes mellitus é responsável por 70% das amputações dos membros inferiores. As complicações começam a surgir devido a mínimos machucados que, se não tratados, podem gerar infecções severas, úlceras e até mesmo a síndrome do pé diabético. Estima-se que 85% das amputações relacionadas ao diabetes começam com uma ulceração nos pés (lesão nos tecidos), que pode ser prevenida ou tratada corretamente, evitando complicações do quadro.